27.11.14

XVII Semana Filosófica e XII Teológica - 3º dia

Às 16h o concludente do curso de Filosofia Frei Josué Laurindo expôs o seu trabalho monográfico, com o tema “A hermenêutica em Gadamer: a verdade como possiblidade”.


O Frei Josué apresentou sua monografia à banca examinadora no último dia 17

Texto de apresentação:

A HERMENÊUTICA EM GADAMER: A VERDADE COMO POSSIBILIDADE

Este trabalho refletiu sobre o tema “A hermenêutica em Gadamer: a verdade como possibilidade” a partir da obra Verdade e método. Para isso, procuramos compreender a ideia de hermenêutica partindo da sua etimologia até chegar à hermenêutica filosófica proposta por Gadamer. Nesse itinerário procuramos compreender, em linhas gerais, as contribuições dos principais filósofos que se detiveram sobre o tema da hermenêutica, Schleiermacher, Dilthey e Heidegger, mostrando como cada um contribuiu para o seu desenvolvimento e, consequentemente, como contribuíram para o pensamento de Gadamer. Nesse ínterim, mostramos como ele construiu a sua ideia de verdade, procurando libertá-la dos impedimentos que lhe foram impostos. 

Dessa forma, seguindo o percurso que Gadamer adotou na construção de sua hermenêutica e apontando os avanços que este proporcionou a ela, fomos motivados pela seguinte indagação: “é possível uma hermenêutica que possibilite o encontro da verdade?”

Então, movidos pelo desejo de compreender a hermenêutica em Gadamer e nela a verdade, em diálogo com os que já procuraram fazer isso, construímos o nosso trabalho em três capítulos: 

No primeiro capítulo, procuramos apontar algumas das principais contribuições para o desenvolvimento da hermenêutica. Para isso, voltamos aos primórdios do termo, que tem sua origem no verbo grego hermeneuein, normalmente traduzido por interpretar, compreender. Tal origem nos remete “para o deus-mensageiro-alado Hermes”. Hermes é chamado de mensageiro divino, pois é o encarregado de tornar a mensagem dos deuses acessível aos homens e não só, “mas também o encarregado dos limites e encruzilhadas de caminhos e de fronteiras”. Dessa forma podemos perceber que a função da hermenêutica se revela não apenas como um traduzir a mensagem dos deuses aos homens, mas de fazer uma mediação entre as partes opostas e pô-las em comunicação. Todo esse movimento da compreensão Palnner o divide em três momentos: dizer, explicar e traduzir. 

Partindo dessas orientações básicas, mostramos as principais contribuições dadas à hermenêutica. Assim, iniciamos por apontar as contribuições de Schleiermacher, não por ele ser o fundador, mas porque ele a resgatou de uma visão puramente instrumental que a colocava a serviço da teologia e da filologia. Isso foi possível na medida em que ele dá a sua hermenêutica o nome de doutrina da arte. Pois, ao fazer isso, ele proporciona à hermenêutica uma relação mais originária da compreensão do pensamento. Assim, ele funda um método universal capaz de levar à compreensão do texto, sem, no entanto, estar preso à tradição.

 Contudo, segundo Gadamer, Schleiermacher cai em erro ao impor o método como única forma de chegar à compreensão. Com isso ele impede o avanço livre da hermenêutica na construção da verdade.

Dilthey, por sua vez, alarga o seu campo de visão, na medida em que volta a sua hermenêutica para além da compreensão meramente textual, procurando fazer dela a base para as ciências do espírito. Ele faz isso partindo da ideia de que somos seres históricos e, sendo o ser histórico o próprio que investiga a história, pode-se daí deduzir que existe uma homogeneidade entre sujeito (consciência) e objeto. Com isso existe uma tomada de consciência que não pode ser negada. A essa realidade Dilthey chama de “nexo de sentido”.

Esse nexo de sentido se dá na realidade da vida e não num sujeito geral, pois com afirma Gadamer: “é a vida mesma que se desenvolve e se configura em unidades compreensíveis e são tais indivíduos singulares que compreende as unidades como tais”. Assim, dentro desse círculo, realizam-se os nexos de vida que possibilitam a compreensão, pois compreender é compreender a expressão, que por sua vez é histórica. Dessa forma, história é meio universal da verdade. Porém, essa ideia, segundo Gadamer, e problemática, pois aqui a compreensão se dá “como um deciframento e não como uma experiência histórica”. Esse problema se agrava na medida em que nele subjaz a pretensa ideia de encontrar um método que pudesse assemelhar as ciências o espírito às da natureza.

Heidegger, por sua vez, assume a natureza histórica da compreensão, mas volta seu olhar para a existência, procurando, com isso, libertar a compreensão das influncias metodológicas sofrida pelas ciências humanas. Ao fazer isso, ele mostra que o ser humano é por natureza um ser hermenêutico, ou seja, um ser que compreende e se compreende. Ele tem a chave de sua compreensão.  Assim, para compreender esse ser existencial, ele propõe fenomenologia como caminho para se chegar à verdade, pois, na concretude, busca os acessos ao ser. E todo ser possui uma estrutura prévia. Assim a hermenêutica pretende recordar à existência essas estruturas essências do ser. Aqui percebemos o papel da hermenêutica, trazer à luz as estruturas prévias. 

Partindo de tal ideia, “Heidegger procura mostrar que as condições que tornam o pensamento possível não são auto-geradas, mas são estabelecidas bem antes de nos engajarmos em atos de introspecção,” pois já estamos dentro de uma historia de uma tradição.

No segundo capítulo tratamos do “método... na visão de Gadamer”. Para isso, procuramos compreender o pensamento de Descartes, já que ele foi o responsável por lançar as bases das ciências modernas. Ao fazer isso ele pretendia criar um método que livrasse o conhecimento das bases aristotélico-tomistas e, ao mesmo tempo, levasse a ordenar a busca da verdade. 

Para isso, ele propôs um método racional capaz de ordenar o conhecimento do senso comum e livrá-lo das ideias impostas pela tradição, e chegar a uma verdade objetiva. Após muito refletir sobre isso, chegou à conclusão de que “deveria rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse encontrar a menor dúvida a fim de encontrar algo que fosse inteiramente indubitável.”

Após percorrer todo o caminho da dúvida, e até mesmo ter negado a própria existência, Descartes afirma que: “enquanto eu queria pensar assim que tudo era falso, convinha necessariamente que eu, pensava, fosse alguma coisa. Ao notar que esta verdade penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que todas as mais extravagantes suposições dos céticos não seriam capazes de abalá-la, julguei que deveria acatá-la sem escrúpulos como primeiro princípio da filosofia que eu procurava”. Assim, a autoconsciência é a base na qual a verdade do objeto é possível, pois o ser humano o percebe e o faz existir enquanto ser pensado. Dessa feita a razão cartesiana ficou livre para construir uma verdade dogmática. 

O iluminismo, seguindo tais princípios, coloca uma forte ênfase no poder da razão, a fim de, com sua política, derrubar todas as práticas tradicionais costumeiras, todas as crenças infundadas, ou seja, tudo que fosse preconceito. Tudo isso representa a cunhagem da ideia de preconceito feita pela modernidade e levada ao extremo pelo iluminismo. 

Também o romantismo alemão, da mesma forma, pois adere à subjetividade do método moderno na medida em que vê a historia numa constante evolução que trata “o velho por velho”. Assim, o movimento romântico extremiza essa ideia com o filósofo Dilthey, pois pretendia as ciências humanas semelhantes as da natureza. Esse foi o “fruto mais soberbo da Aufklärung”, sua consumação.   

Porém, segundo Gadamer, “O preconceito’ não significa, pois, de modo algum, falso juízo, uma vez que seu conceito permite que ele possa ser valorizado positiva ou negativamente.” Assumindo seu lado positivo, ele mostra o papel especial que os preconceitos têm para a compreensão, mostrando que eles são fontes de restabelecimento da verdade.  

Assim, a semelhança de Heidegger, Gadamer assume para si a ideia de preconceito e de autoridade, procurando superar a concepção moderna que acredita que o pesquisador é neutro, e, assim, a autoridade não tinha nenhuma força. Porém, para ele, “a autoridade é uma atribuição dada a pessoas. Mas a autoridade das pessoas tem seu fundamento último num ato de submissão e de abdicação da razão, mas num ato de reconhecimento e conhecimento.” Desse modo, a autoridade está nas questões que ele apresenta e não nas sanções que poderia apresentar aos indisciplinados e resistentes.  

Dessa feita, ter autoridade é conhecer algo e o conhecimento é tradição, e, sendo assim, ela não está sujeita ao método, mas está acima deste na medida em que o que pode ser compreendido faz parte dela. Desse modo, todo conhecimento é uma interpelação da tradição. Assim, quando o pesquisador pretende pesquisar é sempre interpelado pela por ela. 

Então, toda a estrutura da tradição revela que, como afirma Gadamer “a ação que perdura e a ação da investigação histórica formam uma única ação, cuja análise só poderia encontrar uma trama de ações recíprocas.” Daí, olhando para a vivacidade da história, podermos perceber tal vivacidade, e “indagar pela sua produtividade hermenêutica.” Tal produtividade é, para Gadamer, no entanto, um caminho empreendido para se chegar à verdade.

No terceiro capítulo, pretendemos tratar da concepção de Gadamer da hermenêutica e sua relação com a verdade. Contanto, ao construir sua ideia de hermenêutica, ele não trata da verdade como o fazem os manuais de teoria do conhecimento, mas vai abrindo caminhos para que ela se manifeste em sua plenitude.

Assim, a hermenêutica gadameriana é uma forma de compreender o pensamento diário e da experiência, no acontecer dessa realidade, pois segundo Gadamer, “a hermenêutica filosófica tem como tarefa abrir a dimensão hermenêutica em toda a sua plenitude e alcance e de ampliar seu significado fundamental a todo o conjunto de nossa compreensão de mundo”. Todo esse processo de compreensão se dá na linguagem, pois ela é meio para o compreender e, ao mesmo tempo, é fruto da realidade que permitiu a compreensão.

Dessa forma, a da linguagem, elemento medidor entre passado e presente, chegar ao encontro da verdade na realidade vivida, em constante diálogo com o outro, sem contanto negar que ele é portador de verdade. Dessa feita, Gadamer, na busca de restabelecer a verdade, trabalha-a em três experiências básicas, a saber, história, linguagem e arte. Isso é possível quando a verdade é hermeneuticamente exposta. 

Para Gadamer, a experiência constitutiva da participação ou encontro com a verdade está na sua irrepetibilidade. Porém, a experiência foi impedida de avançar, pois a modernidade acreditava que para compreender era necessário que houvesse repetição, Entrementes, para Gadamer, a compreensão se dá nas coisas mesmas de forma irrepetível, pois os encontros hermenêuticos têm a característica de nos suspender, deixando-nos satisfeitos ou não. 

 A verdade é hermenêutica na medida em que acontece numa constante relação, na qual a parte modifica o todo e o todo modifica a parte. E ela ganha seu verdadeiro sentido quando compreende que “a experiência é, portanto, experiência da finitude humana.” Pois o ser humano reconhece na sua finitude, o que não é possível graças ao seu estado, estado de um ser que está dentro da história e que faz parte dela. Assim a compreensão hermenêutica faz parte da história e sua realização é fruto da experiência. 

Dessa forma, a tradição e os preconceitos são parte integrante de um único ser. Com isso, segundo Gadamer, “uma consciência finita jamais será senhora de suas determinações”. Porém, pode haver mal-entendidos nos preconceitos, mas, para superar isso ele propõe um caminho um caminho de discernimento entre o passado e o presente mediado pela linguagem, deixando vir à tona o novo histórico, sem tomar como um todo um fenômeno histórico. Nesse ínterim, Gadamer apresenta como meio para superar os mal-entendidos a ideia de fusão de horizontes que por meio da linguagem funde nossas opiniões e visões de mundo. 

O horizonte é o ponto de partida donde se fundem outros horizontes, criando, automaticamente novos horizontes, ganhando nova verdade. Por isso, o hermeneuta deve adentrar no texto ou tradição sem pretensões, a não ser a de dialogar, já que elas são portadoras de vida. E, dessa forma, acontece a compreensão que se dá no presente e sempre em projeto de futuro. 

Todo esse processo mostra que a hermenêutica gadameriana funciona como um convite ao diálogo e não uma luta entre o passado e o presente, pois o entendimento é acomodação do outro. Também, o diálogo permite ver a fragilidade da conversação, para juntos construir uma compreensão. 

Esse movimento de fusão-dialogal é regido pela lógica da pergunta e da resposta, pois, para que haja verdadeira compreensão, é necessário que saibamos a quais perguntas o autor procura dar respostas, pois, se estivermos movidos pela pergunta errada, obrigatoriamente cairemos em erro.  Dessa forma, a pergunta nos abre um diálogo com o autor, pois “à medida que se consegue dar-se ao diálogo, ambos se submetem à verdade do assunto em questão que os une numa nova comunidade”. 

Desse modo, Gadamer acredita que, para se chegar à verdade, o caminho é a conversação que se dá quando entramos num diálogo autêntico, mediado pela linguagem, a qual carrega em si a própria verdade, pois ela “é o meio universal em que se realiza a compreensão”. Assim a linguagem está para além da história e da tradição, pois estas só podem ser concebidas mediante aquelas.  Daí podermos perceber que também a verdade vai além, pois se desenvolve de modo permanente e ilimitado, isto é, a verdade não pode ser obtida de forma plena e muito menos enquadrada dentro da subjetividade humana, como pretendiam as ciências modernas, mas se dá no mundo da compreensão, sem o nosso domínio. Dessa feita, a linguagem tem um caráter especulativo, pois no movimento da compreensão, ela representa a única possibilidade, numa relação interpretativa de se chegar à verdade. “Pois as palavras pelas quais uma coisa chega à linguagem são, elas mesmas, um acontecer especulativo. O que nelas se diz é aquilo em que consiste sua verdade”.  

Por fim, mostramos como Gadamer liberta a questão da verdade a partir da experiência da arte. Ao fazer isso, ele quer mostrar que a arte é,(segundo Grondim) “num primeiro momento, um encontro de verdade.” E, para adentrar nessa verdade profunda da arte, é necessário reconhecer que ela tem uma objetividade e o encontro que fazemos com ela abre-nos um mundo, pois a obra de arte é um mundo que nos abre possibilidades infinitas. 

Por isso, fazer a experiência da arte modifica aquele que a faz, pois, ao entrar nesse jogo é necessariamente transformado. Quando Gadamer fala de experiência, está se referindo ao modo de ser da própria obra de arte, da verdade que se manifesta nela. 

O jogo não admite interferência da subjetividade, pois, ao jogar, o jogador sabe que está no jogo, mas não tem consciência total dele, somos submetidos a ele. Por isso, Gadamer afirma ser necessário que o jogador tenha em mente o seu fim e se engaje nessa finalidade, assumindo a natureza do jogo para, com isso, transcender a imediaticidade da vida, vivendo a verdade que lá está presente. 

Essa verdade acontece na medida em que o jogador sai transformado pelo jogo, pois o ser está jogado. Daí deduz-se que essa é a razão de a arte não ser uma mera cópia, mas uma realidade.

 Esse movimento compreensivo da realidade revela que a verdade é resultante do próprio acontecer do mundo, que nada mais é do que uma configuração com aquilo que está sendo jogado.  Assim, podemos perceber que a verdade é possível a partir desse diálogo participativo, no qual a parte revela o todo, e o todo revela as partes numa relação constante, “pois a verdade é essencialmente diálogo” (LAWN, 2011, p. 125) e a arte é a manifestação plena dessa verdade, pois ela representa uma realidade plena que permite ao homem perceber uma totalidade e nela acontece todo o diálogo desvelador da verdade. 


Por fim, concluímos que a hermenêutica gadameriana apresenta a verdade como possibilitadora, pois vai abrindo caminhos para que a verdade a qual é possível, mediante a linguagem, num diálogo que realiza a fusão de horizontes de forma harmoniosa e solidaria. 

Frei Josué Laurindo

Em seguida, o Prof. Dr. Padre Leonardo Agostine Fernandes iniciou sua palestra, com o tema: “O culto da verdade ao redor da Palavra de Deus”. Suas inserções iniciais contextualizaram a Evangelii Gaudium, encíclica que, segundo ele, distingue-se de todos os documentos pontifícios anteriores.  Enfático, padre Agostine afirmou:  “A Evangelii Gaudium é uma exortação aberta, provoca seus interlocutores, o Papa não tem resposta para tudo. Cada Bispo tem que ser capaz, junto com o seu clero, de procurar a resposta para os problemas concretos da Igreja local.


O padre Leonardo lembrou o Papa Francisco como o apontador de caminhos, não de soluções, olhando a realidade como ela é, mas com otimismo, na certeza de que o anúncio de Jesus Cristo é, foi e será uma constante renovação para o mundo. 

Sobre a homília, o palestrante destacou que ela serve para comunicar a Salvação, acabando também por demonstrar o grau de docilidade ao Espírito Santo de quem prega. O padre Agostine lamentou as inúmeras homilias vazias de Jesus Cristo e cheias de glorificação e intenções pessoais. 


Às 19h30, ainda pelo Prof. Dr. Pe. Leonardo Agostine Fernandes, o tema “Missão e Missiologia a partir da Evangelii Gaudium” foi exposto numa conferência, a mediação foi feita pelo Prof. Dr. Padre Jânison de Sá. 


Durante a tarde, Dom Lessa se fez presente e saudou os participantes da XVII Semana Filosófica e XII Teológica

O pregador enfatizou a retomada da catolicidade, feita pela Igreja nos últimos anos, ou seja, da importância das Igrejas locais e de sua devida autonomia. Ele afirmou que tal autonomia não se reveste de uma independência da “Igreja de Roma”, mas da obediência a Jesus Cristo, cabeça da Igreja; este obedecer, prosseguiu ele, nos lega a unidade, a partir da qual se pode considerar as organizações estabelecidas no Evangelho, inclusive a hierarquia.  

Especificando o tema, o Padre Agostine assinalou o Concílio Vaticano II como o grande promotor da colegialidade dos bispos. Destacou a expressão “Igreja Povo de Deus”, muito usada neste Concílio, reiterando o papel basilar das Igrejas particulares (Dioceses), com o intuito de atribuir a estas uma missão fundamentada no Evangelho, mas também inserida numa cultura especifica. Finalizou recordando a caridade como um caminho seguro para o entendimento e evangelização dos povos.

Padre Genivaldo Garcia (Diretor Acadêmico) e Padre Jânison de Sá (Reitor)

XVII Semana Filosófica e XII Teológica - 2º dia

O segundo dia começou com a apresentação de trabalho do Seminarista concludente do curso de Filosofia Joranne Fagner. O tema “A ação transformadora do homem em Hannah Arendt” foi apresentado em 30 minutos, com perguntas dos presentes.

Seminarista toma nota dos questionamentos apresentados

O trabalho foi apresentado à banca examinadora no último dia 21

Texto de apresentação:

A ação transformadora do homem em Hannah Arendt

Deflagrar atos sempre foi uma característica do homem, através do seu movimento percorreu a Terra e se adaptou a ela. Nestes atos encontram-se intenções diversificadas, elas ditam o processo iniciado, podendo eles ter um fim ou não. O papel do homem, portanto, é racional, ele intenciona o que deseja realizar. Porém, esta sequência intenção-ação não encerra o modo de o homem agir, seja consigo mesmo, seja com o que o rodeia; isto porque dimensões tangíveis e intangíveis rondam a humanidade, uma prova disto é a natureza humana, sobre a qual não há consenso entre os saberes; outra prova são as desafiantes questões metafísicas, das quais fazem parte as intrigantes perguntas sobre a possível realidade póstuma. 

Á parte as faculdades humanas, mas não as excluindo, relacionadas ao raciocínio, ao intelecto ou as desafiantes questões supracitadas, Arendt, no livro A condição humana, base para nossa pesquisa, sente-se interpelada pelos horrores causados pelas grandes guerras e sistemas totalitários do século XX. Isto fez com que a Filósofa se perguntasse o que a humanidade estava fazendo e para onde ela estava indo. Tais horrores desafiaram a maneira de Arendt pensar o homem, eles foram basilares no interesse dela pela existência humana.

Hannah Arendt nasceu em 14 de outubro de 1906, na cidade de Hanôver – Alemanha, e morreu no dia 4 de dezembro de 1975, em Nova York. É considerada uma das mulheres mais influentes do século XX. Filósofa, não gostava de ser considerada como tal, preferia que suas inserções fossem classificadas como teorias políticas. Arendt foi contemporânea do regime nazista, por causa deste emigrou para os Estados Unidos, onde permaneceu apátrida durante 12 anos, depois, recebeu a cidadania americana. Neste país, lecionou na Universidade de Chicago e na New School for Social Research, em Nova York, onde permaneceu até à sua morte. 

Contemporânea desse regime e perseguida pelo mesmo, Arendt acredita que a compreensão da vida passa pelo cuidadoso exame e perseverança consciente perante os fardos próprios do tempo em que se vive; ela defende um realismo capaz de excluir qualquer inércia, de modo que o homem não se curve ao peso da realidade, mas a encare e a resista. Hannah Arendt é avessa a qualquer organização que marginalize as manifestações do homem, pior, que exclua o direito de expressão do mesmo. Sobre o poder, cuja larga utilidade se verifica em governos constituídos, e acerca desta aversão, a Autora assinala:

O poder só é efetivado onde a palavra e o ato não se divorciam, onde as palavras não são vazias e os atos não são brutais, onde as palavras não são empregadas para velar intenções, mas para desvelar realidades, e os atos não são usados para violar e destruir, mas para estabelecer relações e criar novas realidades. (ARENDT, 2013, p. 249).

Influenciada pelos desafios de sua época, ela apregoa concepções voltadas à centralização do pluralismo na política, o qual poderia ser gerador de liberdade entre as pessoas, uma pregação contrária ao que se verificava nos regimes totalitários instalados no século XX. Arendt reflete o homem desde o seu aparecimento na Terra até o seu perecimento carnal, ele é explorado a partir de sua particularidade quando no primeiro contato com o mundo, ainda recém-nascido. Assim, Hannah Arendt é terminante em lembrar que o ser humano se adapta ao habitat encontrado, e neste encontro há inevitáveis indagações, das mais simples as misteriosas. 

Neste sentido, considerada a particularidade do homem, a sua adaptação ao mundo, os seus constantes questionamentos acerca deste, a sua convivência com a natureza, os desafios que ela lhe impõe, o lidar com os demais humanos, o legado herdado pelos antepassados, o presente desafiador e o futuro velado pela incerteza, inevitavelmente o homem se questiona acerca da sua existência, e não só, acerca também do mundo em que vive, deste locus comum, no qual milhares de pessoas e demais seres partilham do mesmo habitat. Hannah Arendt afirma ser a pluralidade a condição de toda a vida política “A pluralidade é a condição da ação humana porque somos todos iguais, isto é, humanos, de um modo tal que ninguém jamais é igual a qualquer outro que viveu, vive ou viverá.” (ARENDT, 2013, p. 9-10). Assim, diante desta condição e de tais considerações, como o homem pode, a partir de sua singularidade, significar e agir no mundo?

A condição humana, expressão que dá nome ao segundo livro de Arendt, corresponde a soma total das atividades e capacidades humanas. Dela desponta a vita activa, cuja composição é caracterizada pela atividade do trabalho (relacionado a realidade biológica do homem, ou seja, a necessidade sempre recorrente de sobreviver, seu bem supremo é a própria vida), da obra (caracterizada pela edificação do artifício humano, isto é, de um mundo paralelo ao natural) e da ação (atividade que se dá entre os homens, sem mediação de qualquer material, ela ocorre na pluralidade, é o puro relacionamento entre os seres humanos). Estas atividades representam a humanidade, nelas se encontram os meios para a significação e atuação no mundo, este, portanto, é constantemente transformado por elas.

Desenvolvemos este trabalho em três capítulos. No primeiro, depreendemos o conceito de vita activa para Hannah Arendt, a vita activa arendtiana diz respeito ao cuidado dos assuntos público- políticos. Esta discussão reflete a maneira como a humanidade lida com os espaços que ocupa, em dimensões particulares e coletivas. Em relação a existência humana, sob uma ótica analítica do passado ao presente, Hannah Arendt indica que o agir e o pensar se constituíram dois caminhos, não necessariamente antagônicos, tomados pelo homem no assumir de um modo de vida. Neste sentido, a Filósofa se debruça a compreender a oscilação humana quando em sua relação intrapessoal, interpessoal e com o mundo; esta oscilação está diretamente ligada a vita activa e a vita contemplativa, a qual difere dos assuntos público-políticos, caracterizando-se por um modo de vida voltado para a contemplação do saber refletido, demonstrado e metafísico.  

A palavra mundo é largamente usada por Arendt em suas inserções político-filosóficas, podendo implicar uma generalização complexa de ser pesquisada. Porém, nesta pesquisa, o mundo do qual fala a Autora deve ser entendido pelo prisma da pluralidade, ou seja, caracterizado como um lugar de encontro e de acontecimento das diferenciações humanas, pois, ele não deve ser interpretado como um lugar de uma única manifestação, mas, como a morada de múltiplas revelações étnicas e culturais. A palavra mundo não especifica uma localidade deste, nem tampouco pretende abarcar toda a sua complexidade, enquanto diversidade de caracteres geográficos ou populacionais, mas expressa o habitat comum de todos os homens.

Prosseguindo o seu pensamento acerca da vida, Arendt aponta que as atividades do trabalho, da obra e da ação estão intimamente relacionadas com a condição mais geral da existência humana: o nascimento e a morte, a natalidade e a mortalidade. No ínterim do nascimento à morte, podemos encontrar todas as características arendtianas da condição humana. Desde o trabalho até à ação o homem se deixa conhecer, de sua realidade mais biológica até às mais detalhadas expressões do agir, manifestas em cada olhar, gesto ou palavra. As três representações têm elo direto com a natalidade “na medida em que têm a tarefa de prover e preservar o mundo para o constante influxo de recém-chegados que nascem no mundo [...]” (ARENDT, 2013, p. 10).

No segundo capítulo, explicitamos as diferenças entre as duas primeiras dimensões da vita activa: trabalho e obra. A filosofia arendtiana reserva ao trabalho uma produtividade particular, distinta dos objetos que acrescem o artifício humano, esta é a própria vida. Arendt destaca que o trabalho está apenas para sobrevivência, garantia de reprodução da espécie, nada mais fora disto. Tal produtividade não se refere a nenhum objeto que garanta a vida humana, mas reporta à força humana, a qual é capaz de criar excedente, não se esgotando depois da produção do que lhe interessa, ao contrário, renova-se para início de um novo processo. O trabalho é o primeiro modo pelo qual o homem se manifesta enquanto partícipe de um grande ciclo, é também uma imagem daquilo que é a natureza, numa constante labuta e descanso, onde os seres vivem e sobrevivem atravessando a sucessão dos dias. Aqui, tem-se o homo laborans, este trabalha segundo suas necessidades mais básicas, ele é o que exerce o trabalho e “se mistura com”, ou seja, pela sua necessidade biológica de se suster, estabelece relação com a natureza, misturando-se com ela, no objetivo de consumir seus frutos e sobreviver. 

Nesta exposição, Hannah Arendt adiciona o “mundo construído pelos homens”, que corresponde à atividade da obra. Esta é caracterizada pelo início, meio e fim do processo usado para fabricação do objeto que acrescerá o artifício humano. A atividade da obra se caracteriza terminada quando o objeto a que se propõe fazer está pronto. Esta atividade é destinada somente para o acréscimo do mundo artificial, edificado pelo homem. Aqui, tem-se o homo faber, produtor e construtor de artifícios, adicionador de coisas no mundo, ele é o que “opera em”, o qual tem a função basilar de dar ao homem estabilidade em sua passagem pelo mundo. 

Na atividade da obra, Hannah Arendt assinala que os homens tem poder sobre os seus produtos, podendo destruí-los no momento em que desejarem. Neste sentido, outro ponto abordado é o nível da relevância dos objetos produzidos pela obra “nenhum objeto de uso é tão urgentemente necessário ao processo vital que o seu fabricante não possa arcar com sua destruição e sobreviver a ela”. (ARENDT, 2013, p. 179). Nesta particularização da atividade da obra Hannah Arendt afirma:

O homo faber é realmente amo e senhor, não apenas porque é o senhor ou se estabeleceu como senhor de toda a natureza, mas porque é senhor de si mesmo e de seus atos. Isso não se aplica ao animal laborans, sujeito às necessidades de sua própria vida [...]. A sós, com a sua imagem do futuro produto, o homo faber é livre para produzir, e também a sós, diante da obra de suas mãos, é livre para destruir. (2013, p. 179).

No terceiro capítulo, refletimos a ação como a atividade mais latente na significação e transformação do mundo. É a ação que oferece meios tangíveis e intangíveis capazes de operar o inesperado na história da humanidade. Um aliado da terceira dimensão da vita activa é o discurso, através do qual os seres humanos podem pronunciar vocábulos e assim estabelecer distinção dos demais. A Filósofa não se debruça em detalhar tipos discursivos, atuando num âmbito sintático, mas busca garantir o direito da palavra proliferada, num movimento natural do homem que é capaz de falar e se distinguir. Arendt considera que a ausência da ação e do discurso empobrece o homem, fazendo-o se aproximar da negação de si mesmo; ela afirma que a passividade e o silêncio escondem o ser humano, assinalando também que quem se desvela não sabe o que desvela, fato que pode representar certa insegurança. Entretanto, Hannah Arendt insiste que o homem deve ter coragem para correr o risco de se fazer visível aos outros homens, ela lembra que o contrário disto é o isolamento, no qual o ser humano pode se fechar, o se expor é o melhor risco, uma vez que a condição humana existe na pluralidade. 

 A Filósofa aponta dois nascimentos na humanidade, o primeiro se dá no parto e o segundo ocorre no desvelamento através da ação e do discurso, a partir dos quais o homem pode mostrar verdadeiramente quem é, inserindo-se definitivamente no mundo, esta inserção ocorre no domínio público, nomeado por Arendt como o “estar junto dos homens”. O nascimento de novos seres é central no pensamento arendtiano. É pela natalidade que o mundo nunca padece velho, ocorrendo uma permanente renovação da humanidade, o fato do nascimento já traz intrínseca a própria ação. 

Hannah Arendt nomeia os efeitos da ação “Teia de relações” e distingue dois espaços: o “espaço-entre físico” e o “espaço-entre”. O primeiro diz respeito ao mundo como morada de todos, o habitat humano, o segundo é caracterizado pelas palavras pronunciadas e atos deflagrados, este espaço é intangível, mas é tão real quanto o primeiro. Dentro desta teia e nos espaços citados, a ação produz inúmeras “estórias”, as quais revelam a singularidade de cada homem, elas se inserem na grande história, cuja autoria é intangível, pois não se é possível definir o iniciador da ação pela qual tudo passou a existir. A intangibilidade dos autores da história dá espaço a tangibilidade dos que se revelam pela ação e pelo discurso.

Hannah Arendt aponta que a ação possui quatro características peculiares e desafiantes: anonimato dos autores da história, imprevisibilidade, irreversibilidade e ilimitabilidade. O primeiro indica o fato do não conhecimento do autor (res) primário (os) da história, o segundo diz respeito a incapacidade humana de prever as consequências de uma ação deflagrada, o terceiro é referente a impossibilidade de reverter o ato começado e o quarto, indica as infinitas consequências que um ato começado pode ter. Tais características são verídicas, porém, não devem inibir o homem quando presente na pluralidade através da ação e do discurso. Ao contrário, ainda que peculiares e desafiantes, elas fazem parte da própria liberdade, desfazer-se delas é o mesmo que se anular perante os demais homens.

Assim, sabedores dos desafios próprios de cada época, cientes da própria volubilidade e cônscios da sua condição, da qual faz parte a vita activa, cujas características principais se revelam na labuta do trabalho, na construção do artifício humano e na natalidade, singularidade e pluralidade, os homens precisam dar constantes respostas as interpelações vindas de vários âmbitos, do mais concreto aos incômodos mais subjetivos, principalmente os de conteúdo metafísico.

Contudo, o homem já responde a tais interpelações. As atividades da vita activa pelas quais ele se manifesta é uma prova disto, principalmente pela ação, através da qual há uma manifestação mais latente para significação e transformação do mundo. Na ação se manifesta potencialidades capazes de renovação, ocorrendo ao mesmo tempo uma complementaridade com as dimensões do trabalho e da obra. 

Com sua ilimitabilidade, imprevisibilidade e irreversibilidade, fundamentada no agente inserido numa pluralidade, a ação garante aos homens intenso dinamismo e liberdade para significação e transformação supracitadas. Aliados a ela despontam o perdão, a promessa, a fé e a esperança, os quais se inserem decididamente na condição humana da mortalidade, fazendo-a sequente, mas não central. Hannah Arendt, com estas quatro dimensões, responde a realidade temporal da humanidade, isto é, ao passado marcado pelos atos deflagrados, ao presente assumido pelos homens, e ao futuro velado pelas incertezas. 

O perdão remedeia a irreversibilidade dos atos, sem ele a humanidade poderia ficar presa aos desentendimentos gerados pelas relações humanas, Arendt afirma que se o perdão não atuasse sobre os homens desencadeadores de todo tipo de ação, eles seriam capazes de imprimir traumas permanentes na história da humanidade “[...] à semelhança do aprendiz de feiticeiro que não dispunha da fórmula mágica para desfazer o feitiço.” (ARENDT, 2013, p. 296). A promessa remedeia a imprevisibilidade, e é a grande seguradora de possíveis melhoras num futuro, é por ela que os homens entram em acordo sobre questões que ainda não estão em seu poder, justamente por não estar no presente, a finalidade da promessa é controlar as incertezas do que está por vir, não é uma posse do que não se vê, mas, do que se vislumbra. Arendt vê o perdão e a promessa íntimos do homem, ou seja, parte integrante de suas capacidades, não vindos ou impostos de fora, mas, modalidades da ação. Enquanto a fé e a esperança constituem-se valores fundamentais na sustentação do esforço e perspectiva humana e são impressos pelos constantes nascimentos de homens. Para evidenciar isto, Arendt lembra uma citação cristã:

É essa fé e essa esperança [...] que encontra sua expressão talvez mais gloriosa e mais sucinta nas breves palavras com as quais os Evangelhos anunciaram sua ´boa-nova’: Nasceu uma criança entre nós. (2013, p.308). 

Assim, temos a ação como parte basilar da condição humana da natalidade, cuja máxima exalta o nascer e não o morrer. É ela que surpreendentemente significa e transforma as gerações, e consequentemente o mundo. O homem, então, revela-se plenamente capacitado, dentro dos seus próprios limites, a manifestação livre dos seus sentidos, principalmente através das palavras proliferadas e da deflagração de atos.

Sem. Joranne Fagner


O Prof. Msc. Pe. José Soares de Jesus prosseguiu com o tema “O lugar da mulher na Evangelii Gaudium”, com a mediação do Prof. Msc. Darlei Possamai. A exposição do padre centrou as injustiças históricas cometidas contra as mulheres, evidenciando as equivocadas interpretações feitas contra elas. O professor Soares assinalou o Evangelho como o grande testemunho contra a exclusão do papel feminino no mundo na Igreja. Ele também recorreu a grandes nomes femininos, da teologia e de outras áreas, para demonstrar o papel singular da mulher.


Às 19h30 o Prof. Dr. José Lima expôs o tema “Contornos éticos na Evangelii Gaudium”, com a mediação do Prof. Msc. Fábio Silva Souza.





25.11.14

XVII Semana Filosófica e XII Teológica - 1º dia





Às 16h o Arcebispo Dom José Palmeira Lessa deu início às atividades da XVII Semana Filosófica e XII Teológica. Ele saudou os presentes, desejando a todos uma profícua reflexão nestes quatro dias de inserções filosóficas e teológicas:



Boa tarde a todos. Sejam todos bem-vindos a 17ª SEMANA FILOSÓFICA E 12ª TEOLÓGICA. Quero saudar:

- o Magnífico reitor Padre Doutor Jânison de Sá Santos, no qual saúdo todo corpo formativo deste Seminário;
- Saudar o Diretor Acadêmico, Padre especialista José Genivaldo Garcia, no qual saúdo a todos os professores deste seminário e das demais instituições de ensino;
- Saudar os presbíteros, diáconos, os nossos seminaristas, religiosos, autoridades, estudantes e a todos que aqui vieram.

Amados irmãos, o objetivo desta semana filo/teológica é propiciar amplas e fecundas reflexões em torno de questões relacionadas à fé e a razão. Assim como nos exortou São João Paulo II, em sua encíclica Fides et Ratio: “A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade e, em última análise, de conhecer a Ele, para que, conhecendo-O e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio.” 

 É com esse intuito que realizaremos nossa semana filo/teológica de 2014, que tem como tema central - EVANGELII GAUDIUM EM QUESTÃO: ASPECTOS FILOSÓFICOS, ÉTICOS, TEOLÓGICOS, ECLESIOLÓGICOS E PASTORAIS. 

Este tema é inspirado na exortação apostólica Evagelii Gaudium (A alegria do Evangelho), do nosso amado papa Francisco. Nesta exortação, ele nos alerta para “o grande risco do mundo atual, com a sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada.” (EG 2).  A Evangelii Gaudium possui como característica singular o método dialógico, pelo qual cada realidade tratada no documento passou a ser julgada por aquilo que de melhor é capaz de produzir para a Igreja e para sociedade. 

Sendo assim, desejo e exorto que tenhamos uma ótima semana de frutuosas e fecundas reflexões. Aproveitemos cada palestra, cada conferência, cada momento de discussão para que possamos nos aprofundar nas questões relacionadas à nossa fé e às problemáticas do chamado “homem pós-moderno”, seja ele cristão ou não, que tem se fechado em si mesmo, se mundanizado. As reflexões desta semana filo/teológica não podem ficar no mero campo da reflexão: deve nos levar a uma verdadeira tomada de consciência e compromisso! Como nos exorta o papa Francisco “Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho.” (EG 20). Que Deus vos abençoe.

Dom José Palmeira Lessa

Em seguida, os padres Jânison de Sá e Genivaldo Garcia, Reitor e Diretor Acadêmico, respectivamente, abriram oficialmente os trabalhos desta Semana. 



O Padre Jânison demonstrou alegria com o início da Semana Filosófica e Teológica, recordando o movimento cotidiano da Casa de Formação quando na dimensão acadêmica:

“Em nosso Centro acadêmico do Seminário Maior, temos o curso de filosofia e teologia. Para aqueles que desejam ser presbíteros, é fundamental o estudo da filosofia que visa ensinar e aprender a pensar. O doc. Pastoris Dabo Vobis afirma que: “um momento essencial da formação intelectual é o estudo da filosofia que leva a uma compreensão e interpretação mais profunda da pessoa, da sua liberdade, das suas relações com o mundo e com Deus” (n. 52). 

O Estudo da teologia em nossa casa de formação deve levar os seminaristas, religiosos e leigos a perceberem com clareza as consequências da revelação divina com relação à missão da Igreja católica. Alimente-se nas fontes da Escritura, dos Padres, da Tradição viva da Igreja e do Magistério (DV, 10)”.

Na primeira palestra, o Prof. Dr. Pe. Cláudio Dionísio seguiu com o tema “O ser humano, centro da Evangelii Gaudium”, a mediação foi feita pelo Prof. Ms. José Alfeu do Nascimento.




À noite, as atividades foram retomadas com a apresentação do Coral do Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição.




O segundo tema abordou a ética e as redes sociais, tema refletido pela Profª. Drª. Carla Jeane H. Coelho, com a mediação da Profª. Ms. Hortência Maria Dantas. A reflexão centrou o comportamento dos usuários de tais redes, questionando a consciência destes quando nas inúmeras inserções na internet.  Acerca da ética, a doutora destacou que sua efetivação se dá na pluralidade, na relação com o outro (intersubjetividade), considerando o valor e a escolha de cada um. Esta centralização e destaque permeou o debate filosófico sobre o tema abordado. 







O primeiro dia desta Semana Filosófica e Teológica terminou às 21h30.