23.11.15

XVIII Semana Filosófica - 1º dia


Tradicional nesta Casa de Formação, a Semana Filosófica deste ano quis centrar os debates no tema "A filosofia do diálogo em tempos de crise humanitária e regimes totalitários", trazendo dois grandes filósofos para as reflexões: Hannah Arendt e Jürgen Habermas. O evento é realizado em parceria com a Universidade Federal de Sergipe.


Os bispos desta Arquidiocese abriram a XVIII Semana Filosófica. Junto aos formadores, demonstram alegria pelas certas contribuições que esta semana pode dar, tanto para o âmbito racional quanto para o campo da fé, exortando aos presentes que não há dissenso entre tais âmbitos, uma vez que se complementam no processo de desenvolvimento do ser humano.

(Da esquerda para à direita) Padre Genivaldo Garcia (Diretor acadêmico), Padre Christiano Silvestre (Vice-Reitor), Dom José Lessa (Arcebispo), Dom João Costa (Arcebispo Coadjutor), Padre Jânison de Sá (Reitor) e o Padre Vadson Monteiro (Vice-Reitor). 

O Padre José Soares explanou o tema "A historicidade do diálogo entre as religões".


O Padre Valdes Aparecido Ferreira mediou a palestra e as perguntas sequentes.


À noite, Thaís Rabelo e Jair Maciel apresentaram duas canções.


O coral do Seminário Maior Nossa Senhora da Conceição também se apresentou, sob regência da Professora Thaís.

Em seguida, o Professor Doutor Anderson de Alencar Menezes apresentou o tema "A filosofia de Habermas na sociedade pós-secular. A mediação ficou por conta do Padre César, Professor de Sagrada Escritura desta Casa de Formação. 

28.1.15

XVII Semana Filosófica e XII Teológica - 4º dia

Apresentação de Trabalho

Rominique Rezende - A concepção de educação em Kant


Defesa da monografia
O presente trabalho teve como objetivo principal compreender a concepção de educação em Kant e como base para a nossa pesquisa utilizamos as obras Sobre a Pedagogia e A resposta à pergunta: o que é o Esclarecimento?. 

Refletimos, então, a pedagogia kantiana através da primeira obra, destacando a essencial importância da educação para o desenvolvimento da humanidade, porque sem ela não seria possível que os homens conseguissem caminhar para um estado melhor do que aquele em que se encontram. A Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento?, completou o que chamamos de alicerce de nosso trabalho, uma vez que toda a ideia de Kant, no que diz respeito à educação, tem como finalidade levar o homem a atingir um estado de esclarecimento, uma liberdade que deve ser conquista por uma decisão pessoal em que o indivíduo sai de sua menoridade.

Com isso, notamos que o desenvolvimento do ser humano, segundo Kant, com o alcance de seu estado de liberdade, só é possível quando pensamos um progresso universal em que toda espécie humana é contemplada, denominado de cosmopolita. Essa ideia kantiana abre de certa forma as portas para todo o desenvolvimento de nosso tema, porque não há uma possibilidade de conquista legítima da liberdade, senão na comunidade humana. E esse estado tido como de autonomia em que o homem esclarecido faz uso de sua razão sem necessidade de uma tutela, uma força externa que o obrigue, é exatamente o que levará o homem a tornar-se aquilo que existe para ser, livre e moralmente perfeito, que por isso, alcançou uma felicidade em dimensão universal e uma paz perene.

Para facilitar a compreensão do nosso conteúdo dividimos o nosso trabalho em três capítulos, destacando alguns subtítulos em cada um. Iniciamos, então, o primeiro tema que foi a educação como fator determinante do desenvolvimento da humanidade, destacando a grande e indispensável importância da educação para o progresso do ser humano, conforme afirma Menezes que (2000, p. 165) “[a] educação é o vetor do progresso, ela fornece a base para a esperança num plano de conjunto da evolução humana, de um progresso geral rumo ao melhor.”

Sendo assim, nesta primeira parte de nosso trabalho procuramos refletir sobre a educação no sistema filosófico de Kant, apontando as principais funções da mesma e a ligação com assuntos do autor que completam o sentido de nosso trabalho, portanto, fizemos inicialmente uma contextualização da visão de educação no período do Iluminismo, devido o autor está inserido nesse contexto. Não apenas compartilhando dos ideais iluministas, mas fazendo uma revisão nas formulações dos pensadores da época, de modo que, desenvolve uma importante crítica à razão, problematizando a questão, sobretudo, dos limites da razão, até onde pode ir.

Outra questão importante que trabalhamos neste primeiro capítulo foi a posição da disciplina e da instrução na pedagogia kantiana, para tanto fizemos uma breve definição de ambas e desenvolvemos os conceitos relacionando-os à proposta central de Kant que é a libertação do homem por meio da educação. Em primeiro lugar temos a disciplina que é a parte negativa da educação, devido ter a função de tirar do homem aquilo que o impede de ser livre de tornar-se aquilo que existe para ser, como que uma função de lapidar os seres humanos, retirando deles qualquer coisa que os afaste de sua essência de ser humano, como afirma Kant que (1999, p. 13) “a disciplina transforma a animalidade em humanidade.”, sendo este um processo basilar na formação do homem, de modo que, as crianças devem ser submetidas desde a mais tenra idade a disciplina, pois, é exatamente nesta fase que a coação das leis podarão as possíveis más inclinações do homem, sobretudo, sua tendência ao egoísmo e à vivência num estado anômico, para torná-lo apto à vida em sociedade e ao processo educativo posteriormente realizado como afirma Vicent que:

“A disciplina é parte essencial da educação, e se Kant vê nela uma educação negativa, certamente não é no sentido de que ela se constituiria em qualquer negação sobre a educação, mas no sentido rousseauniano, à medida que a disciplina torna possível a educação posterior reduzindo, ao mesmo tempo, as influências nefastas de um arbítrio abandonado a si mesmo.” (1994, p. 23).

Temos, em seguida, a instrução que é a parte positiva da educação, pois, ao contrário da disciplina, coloca á disposição do homem os conhecimentos das gerações passadas, dando a atual, a possibilidade de melhorar a partir do estudo e observação das práticas de seus predecessores, estando assim, ligada também ao processo de humanização do homem que instruído, reconhece-se como ser vivente em uma coletividade, pois assim afirma Menezes que “instruir os homens não quer dizer torná-los iguais, mas viabilizar o diálogo comum, permitir que o indivíduo se reconheça no coletivo.”

Com isso, evidenciamos a fundamental necessidade da educação para a humanização do homem, o aprimoramento e alcance de sua natureza, conforme afirmação de Kant (1999, p. 15) que “[O homem] é aquilo que a educação faz dele.”, porque é pela educação que se é possível chegar ao estado de perfeição moral que apresentamos com a plena realização da natureza humana, o que torna a boa participação dos pais e mães, do Estado e dos educadores uma condição indispensável para que isso aconteça.

Finalizando o nosso primeiro capítulo vimos a questão da educação física que segundo Kant (1999, p. 34) é “aquela que o homem tem em comum com os animais, ou seja, os cuidados com a vida corporal.”, que está diretamente ligada ao processo de desenvolvimento humano e encontra-se desde os primórdios da educação, desde a educação doméstica; e suas consequências influenciarão em toda a vida da criança, por conseguinte no desenvolvimento da sociedade. Neste sentido refletimos ainda sobre o desenvolvimento das habilidades naturais que está associado ao uso das próprias ferramentas físicas que a criança já traz consigo, caso contrário, diz Kant (1999, p. 53) que “os instrumentos resultam danosos à habilidade natural.”, de forma que se cultivamos as habilidades naturais, a criança terá capacidade de criar seus próprios instrumentos, gerando assim a autonomia.

Em nosso segundo capítulo refletimos sobre a liberdade dentro do processo de ensino e aprendizagem, destacando seu conceito para a filosofia kantiana e sua estreita relação com a educação, de forma que, abordamos também alguns temas relacionados à ideia de liberdade conforme o pensamento de Kant a fim de que tivéssemos um conteúdo mais sólido e completo. Sendo assim, começamos definindo a liberdade, centro da filosofia e, por conseguinte da pedagogia kantiana, como o estado de autonomia em que o homem faz uso de sua razão sem a necessidade da tutela. Identificamos, ainda, que nesta conquista é necessário a decisão daquele que se encontra preso a menoridade, pois muitos não saem porque não querem como diz Kant:

“A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão grande parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma direção estranha (naturaliter maiorennes), continuem no entanto de bom grado menores durante toda a vida.” (1975, p. 100).

Vimos também que, a disciplina é a base para essa conquista, o que pode soar a primeira vista como algo contraditório, já que a mesma tem o papel de, em certos aspectos, limitar a ação do homem, retirando alguma coisa dele. Entretanto, ao retomarmos a ideia de liberdade segundo o pensamento kantiano, como algo conquistado e plenamente realizado dentro de uma sociedade e que mesmo sendo um fim individual, deverá ser manifestado completamente na comunidade como uma forma de autonomia de cada indivíduo para o crescimento do todo, vemos que não há contradição. Percebemos por isso, que no homem existe uma tendência para alcançar um estado melhor, uma possibilidade para que a sua natureza está direcionada, como uma teleologia do homem que é, segundo Kant, a perfeição do ponto de vista moral. Esta por sua vez é um estado onde todos os seres humanos já atingiram uma plena liberdade, tornando-se autônomos, realizando assim, sua natureza.

Com isso, temos um dos mais importantes subtemas para nosso trabalho, que é sobre o papel da educação na formação do indivíduo para a liberdade, fazendo-nos adentrar no campo da educação moral ou prática que é definida por Kant (1999, p. 35) como aquela que “[...] diz respeito à construção (cultura) do homem, para que possa viver como um ser livre.”, contendo em si três fatores importantíssimos para a construção da autonomia. Em primeiro lugar, temos a habilidade que vem relacionada à formação do caráter do homem, como um tipo de coerência entre aquilo que ele pensa e faz, de forma que o seu agir e seu desenvolvimento findem na formação do próprio talento. Depois temos a prudência que consiste em, por meio da habilidade, se utilizar da sociedade ou dos homens para alcançar fins particulares, mas, no final, conformando-se à sociedade. Enfim, temos a moralidade, fundamental para o desenvolvimento da consciência de pertença à determinada sociedade e de forma mais genérica à toda comunidade de seres humanos; conforme Kant (1999, p. 35) diz que ela “dá um valor [ao homem] que diz respeito à inteira espécie humana.” 

Neste contexto da educação moral notamos ainda, a urgente necessidade de as crianças serem educadas desde cedo, de modo a não haver uma submissão dos adultos aos seus caprichos, bem como a entenderem que a natureza humana deve ser respeitada e que se elas a negarem em alguém, estarão fazendo nelas mesmas, dessa forma será incentivada a consciência de educação e desenvolvimento cosmopolita. Vimos também sobre a questão da tomada de decisão para a formação moral, uma vez que, é o próprio indivíduo, iniciado no sistema de ensino que deverá aderir ao projeto e tomar parte em tudo como sendo sua propriedade, inclusive nas regras a que deve se submeter. Sobre isso, afirma Mulinari que:

“[...] o próprio sujeito é responsável por seu trajeto rumo à moralidade, e este trajeto é mediado pelo processo pedagógico. É sabido que as mudanças que a educação proporciona exigem esforço e, todavia, exige-se ainda cuidado para que não se forme um mero sujeito obediente, tal como um seguidor ou comandado.” (2013, p. 119).

Por isso, à educação em geral para Kant, e de forma específica aquela voltada para a moralidade, cabe o importante dever de tornar o homem um ser capaz de viver em comunidade e a buscar, por meio da autonomia de sua razão, o desenvolvimento da mesma de forma gradual dentro do processo da história da humanidade.

O nosso terceiro capítulo procurou estabelecer a educação como mestra do desenvolvimento da humanidade e teve como tema a educação como um sinal de esperança de um futuro melhor para a humanidade, contendo alguns temas muito importantes para a finalização de nosso trabalho, a saber a esperança e a história como energia e palco, respectivamente, para o desenvolvimento na humanidade, sendo que a própria esperança é possível graças ao amor pela humanidade; e a felicidade e paz, como estado definitivo, após alcance da perfeição moral, a teleologia da espécie humana.

A esperança vem como uma força que impulsiona o homem a caminhar em busca do melhor, de modo que existe tanto porque o homem acredita na possibilidade de um estado melhor como pela própria capacidade de acreditar na espécie; tendo para tanto o amor pelo homem como causador desta espera que não tem fim em si mesma, mas é a possibilidade de pela perfeição moral, se atingir uma felicidade que não é mais propriedade de poucos, efêmera, mas é universal. E de forma similar á felicidade, está a paz perpétua, e para tanto, nos foi apresentada uma forma de constituição que poderia garanti-la, como afirma Kant:

“[...] a constituição republicana é a única perfeitamente adequada ao direito dos homens, mas é também a mais difícil de estabelecer, e mais ainda de conservar, e a tal ponto que muitos afirmam que deve ser um Estado de anjos porque os homens, com as suas tendências egoístas, não estão capacitados para uma constituição de tão sublime forma.” (KANT, 2008, p. 28).

Assim como a esperança, é salutar para nosso trabalho a reflexão sobre a trajetória que o homem percorre ao longo do tempo e a necessidade de uma busca de melhoramento dentro dessa mesma consciência de historicidade humana. Para isso, colocamo-nos diante de uma importante indagação de Menezes:

A natureza humana possui disposições a partir das quais se pode inferir que o homem (enquanto espécie) progredirá sempre rumo ao melhor, e que o mal dos tempos presentes e passados desaparecerá no bem de épocas futuras? (2000, p. 181).

Sobre isso, podemos dizer que Kant responde afirmativamente e aponta exatamente a historicidade do homem como uma possibilidade dessa realização, ou seja, cada geração será melhor do que a sua predecessora, até que se alcance um estado de perfeição.

Mas a esperança requer algo que te dê significado, pois, quem espera, com certeza espera por algo ou alguém, então, com essa afirmação chegamos à parte final do nosso trabalho, em que refletimos, sobre a questão do fim último da humanidade na visão de Kant, a teleologia dele e neste contexto, qual o papel da educação, de modo que, analisamos três possíveis passos do projeto pedagógico kantiano, conforme Barreto apresenta:

“a) o conceito da arte de educar; b) o princípio da destinação humana e; c) e a impossibilidade humana de conseguir seu destino sozinho. Trata-se, portanto, da consideração da pedagogia como componente essencial da filosofia prática, condição que traduz seu estatuto a priori.” (2012, p. 57).

Entendemos, então, que a base da pedagogia kantiana, o alicerce a priori, para a prática pedagógica propriamente dita, é a teleologia da espécie humana, pois, proporciona o desenvolvimento de sua teoria, bem como, torna-se uma condição essencial sem a qual não seria possível justificar tudo o que dissemos e que é na verdade a própria ideia de Kant sobre o papel da educação.

E à educação cabe exatamente formar o homem para um futuro melhor, que vise um mundo diferente do que temos hoje, onde a felicidade universal e a paz perpétua são possíveis, onde a liberdade de cada indivíduo foi conquistada, portanto, cada um pode fazer uso de sua razão sem a coerção externa; porquanto afirma Menezes que:

“Devemos trabalhar para o futuro, porém aqui. A esperança precisa ser caracterizada como produto legítimo do estatuto humano e, para tanto, ela não deve afastar-se do mundo, do qual a humanidade é digna. As gerações sucedem-se na esperança de felicidade e na tentativa de construir um todo moral.” (2000, p. 319).

Porque é pela esperança em um mundo melhor, na realização plena da natureza humana para o bem; e pelo amor dedicado à espécie humana que conseguiremos um progresso legítimo para o homem. Tendo a consciência de que o trabalho deve começar no hoje, garantindo às gerações futuras, assim como as passadas nos legaram, a oportunidade de construir esse mundo tão esperado, onde a felicidade será um bem de todos, não de poucos; e a paz deixará de ser uma utopia e se realizará concomitante à realização da natureza humana.

Enfim, entendemos que é para isso que todos nós existimos e somos, para realizar a nossa esperança, alcançando o estado de perfeição moral, plenamente livres, vivendo a autonomia da razão, em um estado de felicidade universal e de paz perpétua.


TENHO DITO!

Conferência
Linhas Eclesiológicas da Evangelii Gaudium;
Conferencista: Dom Giovanni Crippa (Bispo da Diocese de Estância/SE);
Mediador: Prof. Msc. Pedro dos Santos Reis (SMNSC).






Palestra
A alegria na Evangelli Gaudium: aspectos relevantes;
Palestrante: Prof. Pe. Videlson Teles de Meneses (SMNSC);
Mediador: Prof. Esp. Pe. Genivaldo Garcia (SMNSC).